Considerada a capital da louça de barro, São José preserva a tradição dos açorianos que formaram a cultura da cidade, por meio do trabalho de memória e resgate realizado na Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros, referência na arte no Brasil e considerada a primeira escola municipal da América Latina.
No mês em que é celebrado o Dia do Oleiro, registrado no dia 19 de setembro, as aulas de olaria oferecem aos interessados em conhecer essa técnica a possibilidade de imergir na cultura local.
Os cursos gratuitos são oferecidos em três modalidades: tradicional roda de oleiros, modelagem figurativa e de modelagem diversa. A escola atende cerca de 200 alunos de faixas etárias variadas, desde os nove até os 80 anos. As aulas experimentais ocorrem duas vezes na semana, nas segundas e quartas-feiras, ou nas terças e quintas-feiras, nos períodos da manhã, tarde ou noite.
Além de aprender um novo ofício, adultos, jovens e crianças que participam das aulas têm a oportunidade de conhecer o contexto histórico em que a Escola surgiu, em especial por meio da exposição permanente de peças que ela ostenta para os moradores e turistas que viajam para conhecer o local.
A arte do oleiro, conta Terezinha Maria de Medeiros, neta do mestre que difundiu o ofício em Santa Catarina, passa pela sensibilidade, delicadeza e criatividade, qualidades fundamentais ensinadas no local.
Uma história de gerações
A Escola de Oleiros chama a atenção de turistas vindos de todas as partes do país, curiosos por descobrir a técnica do torno, trazida pelos imigrantes açorianos. Em especial, ela está presente nas raízes da família de Terezinha Maria de Medeiros, neta do criador da primeira olaria catarinense.
Ela lembra que, a partir de 1750, São José foi um pólo produtor e exportador de louças e figuras de barro, época em que ofício se difundiu na região da Ponta de Baixo, quando se tornou um meio de subsistência para as famílias do bairro. “No início, os oleiros acordavam muito cedo para preparar o barro da fornada, outros saíam de carroça para vender louças nos bairros de São José ou no Mercado Público de Florianópolis”, conta.
No início do século passado, com a concorrência de utensílios de alumínio e, posteriormente, de plástico, o ofício entrou em decadência e restaram poucos artesãos da arte da cerâmica. O principal deles foi Joaquim Antônio de Medeiros, avô de Terezinha, mestre oleiro que dedicou a vida à produção das louças que abasteciam as casas dos moradores da região e cidades vizinhas. Em 1918, ele se tornou proprietário da principal olaria na Ponta de Baixo, hoje Escola de Oleiros.
Lembranças de infância
“Eu tinha seis anos de idade quando comecei a frequentar a olaria. Meu pai, filho do Joaquim de Medeiros, era oleiro e minha mãe era pintora das peças. Na adolescência, fomos morar no mesmo terreno da olaria, quando meu pai comprou a fábrica”, explica Terezinha. Hoje aos 60 anos, ela conta que aprendeu algumas técnicas de pintura em peças de barro, que foram vendidas para crianças.
“Tenho ótimas lembranças de um ambiente sempre cheio de gente, entre oleiros, famílias, fornecedores de materiais e, principalmente, clientes. A convivência na olaria era feliz, cada peça criada era uma alegria”, lembra.
Terezinha diz que, por volta de 1934, o avô construiu uma grande fábrica na antiga rua geral, perto da entrada sul da Ponta de Baixo, e o estabelecimento se projetou, chegando aos dias atuais em atividade.
Em novembro de 1992, a Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros foi fundada naquela antiga moradia em que funcionava a fábrica, com o objetivo de valorizar e repassar as técnicas dos oleiros para as novas gerações. A prática se inseriu no rol das manifestações culturais imateriais mais expressivas do litoral catarinense.
Arte que resiste ao tempo
Atualmente mantida pela Prefeitura de São José, por meio da Fundação de Cultura e Turismo, a escola foi recentemente revitalizada e tombada pelo município como Patrimônio Cultural de São José.
A edificação de arquitetura luso-brasileira colonial é um capítulo à parte na história da olaria. A fachada principal da casa apresenta porta e janelas com proporções e ritmos equilibrados, típicos da arquitetura tradicional.
A entrada singela e elegante é instalada sobre um patamar que lembra um pódio, espaço que se projeta para a rua e faz o ornamento à mata verde em silhuetas de fundo. A imponência se confirma pela disposição simétrica dos vãos que compõem a casa.
Sobre a Escola
Os interessados em ingressarem na Escola de Oleiros podem entrar em contato pelo Instagram, por telefone (48) 3343-3487 ou pessoalmente.
Site: www.turismo.saojose.sc.gov.br/o-que-fazer/categorias/cultura-e-historia
Instagram: @escoladeoleiros.fmct.pmsj.sc